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sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Auxiliar limeirense Giovani Cezar Canzian diz que viu uma luz sobre Serginho do São Caetano


"Durante o aquecimento vi que o zagueiro Serginho, do São Caetano, estava sozinho. Em cima dele vi um vulto branco, que rapidamente foi embora. Horas depois ele estava morto. Guardei isso comigo esse tempo todo. Parecia um sinal. Sei lá, fiquei assustado". Essa frase foi dita pelo ex-auxiliar limeirense Giovani César Canzian que trabalhou naquele que tornou-se um dos dias mais tristes da história do futebol brasileiro.

A morte do jogador, que amanhã completa 10 anos, também marcou a vida do árbitro Cleber Wellington Abade, do outro auxiliar Francisco Rubens Feitosa e do quarto árbitro Antônio Rogério Batista do Prado que formavam o quarteto daquele jogo que valia a liderança do Campeonato Brasileiro.

Canzian foi mais além e confidenciou que viu uma luz branca sobre o corpo de Serginho no exato momento em que ele desmaiou na grande área do São Caetano, sobre o pé do atacante Grafitte. "O lance aconteceu do lado onde eu estava atuando. Arrepia só de lembrar, mas quando o Serginho dobrou o joelho eu imediatamente o observei. Vi uma imensa luz sobre ele. Senti que ele já estava morto ali", contou.

Canzian se recorda que não entrou em campo, até para não atrapalhar o trabalho dos médicos que tentavam de todas as formas salvar o zagueiro, praticamente desfalecido. "O Serginho foi levado às pressas ao hospital e o carrinho-maca passou atrás de mim. Todos faziam massagens cardíacas, mas na minha opinião ele morreu no próprio gramado. Não tinha o que fazer", disse.

Oração

Giovani foi para os vestiários com os outros três profissionais da arbitragem. "Rezamos muito, porém alguns minutos depois veio a notícia da morte do Serginho. Todos nós ficamos muito abalados com o caso, pois nunca tinha acontecido isso no Brasil. Foi sem dúvida o dia mais triste da minha vida", lembrou.

Canzian disse também que seis meses depois do acontecido sonhou com o zagueiro. "Ele estava em um lugar de muita tranquilidade, sem sofrimento. Parecia que queria me mostrar que nós fizemos todo o possível para salvá-lo, mas que tinha chegado a sua hora", relatou.

Trauma

O limeirense disse que jamais se esqueceu do episódio e que sempre quando entrava no gramado para trabalhar se recordava da fatalidade. "Parecia que ia acontecer novamente comigo. Qualquer jogador que caia no gramado eu já ficava preocupado. É um trauma que carrego até hoje. Foi um fato triste que marcou demais a minha carreira na arbitragem", explicou.

Pior ainda foi quando novamente atuou em um jogo do São Caetano. "Foi triste. Queria me concentrar no jogo, mas a lembrança daquele 27 de outubro no Morumbi vinha a todo momento. Até o presidente do Azulão, Nairo Ferreira, veio me cumprimentar e lamentar a morte do seu jogador. Foi comovente", lembrou.

Mudanças

Giovani César Canzian disse que infelizmente "há males que vem para bem" e que precisou um atleta perder a vida para todos se conscientizassem.

"A partir da morte de Serginho, os clubes passaram a cuidar mais da saúde dos atletas, aumentando os testes físicos e investindo em aparelhos. Nos estádios passamos a contar com o desfibrilador e dois enfermeiros para jogos com mais de 10 mil pagantes. Até a arbitragem passou a ter um cuidado especial. Os testes se tornaram mais rígidos. Os jogos passaram a ter a parada técnica para que os atletas pudessem se reeidratar. Foi um divisor de água até na medicina esportiva", justificou.

Professor

Canzian trabalhou 15 anos na arbitragem paulista, atuando em quase 1.000 jogos. Por 11 anos pertenceu ao quadro da CBF e faltou pouco para integrar a FIFA. Parou em 2011 aos 40 anos. "Ainda tinha mais cinco anos de carreira, mas achei que era o momento certo de parar", garantiu.

Hoje, Canzian trabalha como professor de educação física na Prefeitura de Iracemápolis e também continua prestando serviços à arbitragem limeirense.

O ex-auxiliar disse que após a morte de Serginho passou a dar mais valor a vida.

"Quando cheguei em casa naquele dia a primeira coisa que fiz foi abraçar a minha esposa. Disse a ela que não somos nada. O Serginho estava feliz no São Caetano, jogando contra o São Paulo, no Morumbi, quando caiu e morreu. Temos que aproveitar cada segundo da vida. A gente só pensa na correria do dia a dia, no trabalho e nos afazeres. Damos pouca importância a quem está ao nosso lado. Perdemos muito tempo. Não vi minha filha crescer. Confesso que hoje sou um homem completamente diferente, principalmente após aquela tragédia", completou. 

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